sábado, 19 de novembro de 2011

CHORUMINGO

PREFÁCIO
Acostumado a trilhar no caminho das
letras, sobretudo narrando histórias reais, seja
de uma cidade, seja de um guerreiro,
Evangelista Mota Nascimento, envereda
numa outra corrente literária: A do romance. O
que, logo adianto, não é pura ficção. Pelo
contrario, há um realismo sem igual, nos nomes
dos personagens, nos lugares onde habitam
nas suas necessidades e ideias.
O protagonista da história - é um menino,
nascido no sertão maranhense - carente,
desprovido de maldade, tímido, porém altivo,
corajoso e destemido. Características que
muitos de nós maranhenses possuímos.
Ao retratar o "passado e presente de um
menino Choramingo", talvez o autor esteja
retratando sua própria história de vida, e de
quebra nos emociona, levando-nos a
compreender a realidade que nos cerca
quando temos coragem para enfrentar os desafios
do eterno viver.
Somos todos, um menino (a)
Choramingo (a) em nossa aventuras e
desventuras, em busca de um ideal de vida,
que se concretize com a paz, a união e a
alegria.
Jessé Gonçalves
Professor e Agente Político

"A respeito dos dons espirituais,
não quero, leitores, que sejais
ignorantes. A manifestação
do Espírito é concedida
a cada um visando a um
fim proveitoso da
sua leitura ".
Apostolo
Paulo

APRESENTAÇÃO
A paisagem artificial e a estrada de chão
batido, onde um menino chorumingo medita sua
vida, foi a obra que o homem camponês
implantou na fazenda Caxixi, por volta da
década de cinquenta, um lugar de pura
tranquilidade e beleza constante, que a
natureza criou no meio do sertão maranhense.
Em um certo dia do século XX, fomos ao
sertão rever alguns parentes e amigos que lá
residiam. Havia muitas fogueiras na porta das
residências, pois era véspera de São João,
uma data festiva que aquela gente
comemorava.
O sol ainda estava refletindo com
abundância na floresta, quando nos
deparamos com uma cena
extraordinária, era a de um menino
meditando no meio daquela trilha. A sombra
das exuberantes árvores protegia-o dos raios
ardentes. Aquela criança mesmo cercada de
pura beleza, demostrava a necessidade
individual de uma nova vida, mas acuado pela
pobreza e falta de conhecimento, contava
nos dedos das mãos a sua própria sorte.
Entusiasmado com aquela tranquilidade
inocente, da bolsa retirei a máquina fotográfica
e cliquei no botão, com o piscar do flash ele se
espantou, mas, sua imagem já estava
registrada e a imaginação do escritor formada,
só restava a criatividade, pois, definitivamente
naquele momento a ideia foi formada, um
romance, uma história que iria escrever. Sem
ignorar o rápido avanço da ciência, da cultura
linguística que derramou luz sobre nossa
cabeça, quando via um garoto impunhando
sua inocência, até certo ponto triste. Pois, na
verdade, as grandes mensagens dos livros
ele não sabia interpretar, faltava-lhe
conhecimento das letras.
No ano de 1967, chega naquela
fazenda um forasteiro de boa pinta, o moço
aparentava ser possuidor de uma cultura
razoável, principalmente por se tratar de
interior, onde poucos sabiam, pelo menos
escrever o seu nome.
Assim era, o garoto personagem dessa
história, um Menino Chorumingo, que naquela
época passava da adolescência para a
juventude, observa com atenção o
comportamento e a maneira dinâmica que
aquele moço falava com seus familiares.
E, em boa hora, ele chegou naquela
fazenda, com paciência, boa vontade, bom
senso e valioso trabalho. Luciano, era o nome
daquele forasteiro viajante que ensinou
Chorumingo e sua família uma nova. perspectiva
de vida. Passado e Presente de um
Menino Chorumingo, também é assim, uma
obra que foi escrita com base em fatos reais.
Razões estas, que você leitor deve ir até o fim.
De imediato note que a
apresentação introdutória da obra é um
romance, uma história muito parecida com a
sua, uma manifestação da alma que é
concedida a cada um de nós visando um fim
proveitoso. Uma visão de pensamento, que
surge no alvorecer do novo século, uma fonte
de inspiração que foi abalizada em um
homem chamado Habacuque. Um profeta
que ministrava cerca de 600 anos a. C. porém
já conhecia as técnicas modernas de escrever
melhor do que muitos de nós.
Habacuque escreveu lá no finalzinho do
Antigo Testamento, os segredos que Deus lhe
transmitiu
quanto ao ofício de escrever:
"Sobre a minha torre de vigia me
colocarei e sobre a fortaleza me
apresentarei e vigiarei, para ver o que me
dirá, e o que eu responderei no tocante, a
minha queixa. Então o Senhor me res -
pondeu, e disse: Escreve a visão e torna -se
bem legível sobre tábuas, para que a possa
ler quem passa correndo". Nós escrevemos
aquilo que o Espírito da sabedoria Divina
inspirou os amantes das letras.
Então, posso afirmar que vi no
Menino Chorumingo uma criatura cheia de
inspiração para se escrever um bom livro, e
no profeta Habacuque tudo que um escritor
precisa em matéria de atitude para escrever
correto. Ele possuía iniciativa, persistência,
paciência e, acima de tudo, a capacidade de
nem sempre participar do dia-a-dia de seus
amigos. De igual modo é o escritor que
pretende fazer algo mais extraordinário na sua
obra, deve escolher e empreender sacrifício
para torna-la, numa boa leitura.
O lugar que Habacuque escolheu para
ficar é ainda hoje o posto de escuta ideal para
meditarmos e escrevermos bons livros. Lá na
sua terra, em cima da torre, ele ficou perto de
Deus, prestes a ouvir sua voz. Ao mesmo
tempo, podia observar tudo o que acontecia
ao seu redor. O que falava o povo? Quais as
tendências sociais da época? Para quem
escrever? Como relacionar as palavras que
vai lançar aos seus leitores?
A técnica correta de colocar os enredos,
assuntos e personagens que o livro pretende
enfocar ao seu público leitor.
Para ser sincero, escrevemos a para ser
lido. Entretanto, sabemos que é costume de
muitos brasileiros não terem o hábito da leitura.
Mas na modesta opinião deste autor, ler
Passado e Presente de um Menino
Chorumingo é conhecer a sua própria história.
Por esta razão, recomendamos você
leitor, depois de deliciar a história que este
romance vai lhe propocionar do inicio ao fim,
faça uma reflexão e tire suas conclusões se
não é você mesmo, um menino chorumingo,
um garoto que viveu ou vive nos confins deste
imenso país.
Evangelista Mota Nascimento
Açailândia, MA - Janeiro de 2002.
"A profissão de escritor já é uma
condenação e ao mesmo tempo
celebração, mas de qualquer
maneira sem
premiações através dos
chamados bens materiais ".
Lígia Fagundes Teles,
romancista
A JANELA QUE SE ABRIU PARA O
MENINO CHORUMINGO
Num ensolarado sábado de agosto de
1966, um menino chorumingo, levantou-se
cedo, abriu a janela do seu quarto e
cumprimentou o sol. O dia estava
esplêndido; parecia que toda natureza cola -
borava para a inauguração do ano.
Chorumingo, embebeu os olhos no horizonte
e ficou largo tempo imóvel refletindo as
maravilhas do mundo, como se interrogasse o
futuro, era uma profunda reflexão que fazia da
evolução que estava acontecendo no mun do
em que vivia, uma terra onde todos
trabalhavam na agricultura de subsistência.
Naquela época chorumingo era um rapaz
sem letras, mas determinado e cheio de
vocação. Para o
sol fez ura gesto de tédio, saiu rapidamente da
janela, assentou-se na torre de uma pedra
que havia no pátio de sua modesta casinha,
uma choupana coberta com folha de coco
babaçu, piso de chão batido e paredes de
adobe (pequenos blocos semelhante ao
tijolos, preparado com argila crua, secada ao
sol). Ali tranquilamente ficou sentado
meditando a cantiga dos pasarinhos
(pequenas aves), que faziam uma bela
sinfonia nos galhos do cajueiro que sombreava
aquela pedra.
Quando de repente aparece naquela
terra um jovem dentista protético, um sujeito
bem trajado, que aparentava ser letrado e ter
uns vinte cincos anos. O seu animal, um burro
de sela, que estava todo enfeitado: selim,
pelego, carona, alforje, arreios, estribos,
esporas, correias afiveladas. Enfim, tudo
brilhava, pois eram de primeiríssima
qualidade.
A chegada daquele forasteiro não foi
estranha, para Menino Chorumingo, pois ali
sempre aparecia viajantes, alguns vendendo
bugigangas, outros comprando o que os
sertanejos produziam: arroz, milho, feijão,
algodão, farinha, cachaça, rapadura e até
criação. Com simpatia cumprimentou o
rapaz, dele pediu um copo com água e foi
logo apeando (pondo os pés em terra). Com
afago (gesto de passar a mão para
demonstrar afeição), o garoto que ali estava
apreciando a sinfonia que os passarinhos faziam
nos galhos do cajueiro que sombreava
seus aposentos de meditação, se levantou,
cumprimentou o ilustre visitante: um homem
de vinte cinco anos aproximadamente,
vestido com certo apuro, gesto ao mesmo
tempo familiar e discreto, que na sua cabana
foi honrosamente recebido. Chorumingo um
tanto tímido, perguntou:
-Qual a sua graça?
- Luciano disse o moço. E o seu?
perguntou o forasteiro
-Apenas um Menino Chorumingo seu
criado, responde o rapaz.
Luciano um pouco assustado com a
disponibilidade do garoto, logo pensou, será
este o bravo Chorumingo, que os romancistas
de cordel escreveram, mas apenas imaginou.
Naquele momento seu animal amarrou em
uma cocheira que havia do lado, a sela retirou,
na sombra do cajueiro Chorumingo um
tamborete colocou e com ele começou uma
longa prosa sobre a sua sofrida profissão de
agricultor. Luciano retrucou-lhe dizendo, vim
para dar-lhe o cumprimento de bons anos; com
você almoçar e marcar uma caçada de onça
pintada.
Fazia apenas meia hora que eles ali
estavam proseando, quando chegou o
convite para o almoço, um guisado de tatu
com fava misturada com arroz, algo assim era
muito especial, pois naquela data ele passava
da adolescência para a juventude; foram
ambos conversando sobre a fazenda Caxixi, o
lugar que Chorumingo morava e trabalhava na
agricultura de subsistência com seus pais:
Manoel e Maria, estes disseram a Luciano:
não repare o nosso almoço, é carne de caça.
Não se preocupe, respodeu o moço, aprecio
bastante, também sou lavrador e caçador.
Admirado com a elegância do visitante
disse Manoel:
-Oba você também gosta de caçada!
- Sim - respodeu Luciano - quero com
vocês conhecer as matas desta região, e
acrecentou -, tenho na minha bagagem,
espingarda, munição, lanterna e aratraca
(armadilha com que se apanham animais
silvestres).
Luciano demonstrou ter gostado da
comida, elogiou Manoel e D. Maria pelo o
almoço. Elogiou também seus filhos, um
elogio que impressionou Chorumingo.
Luciano percebeu aquilo, viu no seu olhar um
sorriso com certa preocupação, por esta
razão achou melhor não falar mais nada, e só
depois do almoço que retornou a conversa
inicial.
Deitado em uma rede que estava
armada na sala, tomou nas mãos um romance
que rimava a história comovente sobre um
menino que pretendia vencer na vida, mas não
tinha apoio da família e muito menos dos
poderes constituidos.
Choramingo que também estava deitado
próximo dali, de cabeça baixa disse consigo:
que coisa linda é saber ler, só eu não tive a
felicidade de aprender, isto faz me
compreender que o homem sem letra é
defeituoso, um espírito vago, mas um dia
Deus haverá de me mostrar, caminhos para sair
daqui como um cavalheiro vencedor, e receber
meios para estudar, ser médico e escritor.
Luciano era um autêntico observador,
mesmo lendo seu romance, viu que o rapaz
imaginava algo muito importante para sua
vida, com postura de um intelectual do lado
colocou o livro, olhou-o com firmeza dizendo
"menino procure conhecer outras
auternativas de trabalho, o mundo é grande e
há espaço para todos. Se você quiser posso
lhe ajudar disse ele".
Com essas palavras no rapaz
despertou uma esperança, que o levantou a
sair daquele marasmo e perguntou:
-Como podes me ajudar?
-Ensinando-ti uma profissão- disse
Luciano.
-Que profissão? pergunta o rapaz
-A de dentista protético!
-Não posso, sou analfabeto e sem
dinheiro para comprar as ferramentas e
materiais necessários.
-Retruncou-lhe o moço, você ainda é
muito jovem, tem toda energia, basta ter
vontade, vou falar com seus pais para um
professor contratar para desamar (ensinar
ler e escrever) os meninos desta fazenda. Vou
também lhes aconselhar a vender parte da sua
produção, comprar alguns materiais e um cavalo
de sela para você viajar com migo por
esta mundo afora.
Atento aquelas informações, o rapaz
procurou a conhecer detalhes do que podia
aprender e os custos que isso poderia lhe
acarretar. Luciano disse, apreender ler e
escrever basta querer, ser dentista protético
é ainda mais simples do que trabalhar na
roça. Herdei essa profissão dos meus
contemporânios parentes, com a qual ganho
suficientemente para criar e educar os filhos,
mesmo só tendo cinco anos que nela
trabalho.
No dia seguinte, por uma trilha estreita eles
seguiram em direção da Lagoinha, uma
região que havia muita caça, na bagagem
levaram: água, farinha, rapadura, armas,
munição e aratracas. No boqueirão da mata
encontraram um poço d'água, lá as aratracas
ficaram em pontos estratégicos armadas a
espera da Onça Lídia, um felino que metia
medo nos criadores de gado e animal da
região.
Próximo dali encontraram um pé de craiba florido,
uma boa espera para veado
catingueiro, nos seus galhos mais altos
ataram as redes para esperar as caças que
vinham se alimentar das flores que caiam no
fim da tarde daquela árvore. Atentos ali pas -
saram a noite inteira sem pegar no sono.
Já passava da meia noite quando a
primeira caça deceu a serra, pisando na seca
folha estendida no chão daquela mata, sem
interrupção e passadas sutis logo se
aproximou do cesteiro (parada obrigatória) dos
veados catingueiros antes de entrar na espera.
Ao chegar naquele local fez uma descarga de
bolinhas ressequidas que quando caiu no
chão fez mais barulho, os traiçoeiros
caçadores, que já estavam engatilhados
focaram suas lanternas, na taba do pescoço
miram e o gatilho apertaram, um tiro fatal, em
instante o animal assentou o cabelo. Um
pouco mais tarde, outros animais também
foram abatidos
naquela espera.
Quando amanheceu o dia, dois
veados catingueiro, uma paca e um tatu
estavam estendidos, em uma das aratracas
havia uma onça pintada agarrada pela mão,
ao se aproximarem da fera, ela rosnou forte,
mas estava sem alento, com um único e
certeiro tiro de espingarda no pé da orelha o
animal se acalmou. Depois que ela acentou
o cabelo, Luciano reconheceu, é a Lídia.
Logo que chegaram em casa a not ícia
correu em toda vizinhança que os caçadores
da cabeceira tinham liquidado com a vida da
onça Lídia. Uma notícia que agradou os
criadores da região, tanto é que • muitos foram
aquela fazenda cumprimenta-los, por terem
tirado do pasto um felino que já tinha dado a
eles muitos prejuízos.
Mais tarde Luciano foi a residência do
amigo Doquinha, com quem este tinha
relações amigáveis e lhe perguntou de seus
familiares. Este contou-lhe que todos estavam
bem, apresentou sua esposa D. Raimunda,
os filhos: Geneis; Mundiça; Maria; António;
João; Vicência; Dulia e Zequinha. E
acrescentou, estes jovens são os futuros
sucessores do comando desta comunidade,
nunca faço mal quando aconselho um irmão,
um filho ou amigo, liberto-os
da prisão de consciência; disse o velho
Doquinha.
Talvez tenha razão, pensou Luciano.
Naquele momento chamou-o para uma
conversa mais franca. Compreendi o que
acabaste de expressar, resta apenas
contratar um mestre para desamar a
molecada desta propriedade. Doquinha
entusiasmado com a preocupação do amigo,
disse amanhã mesmo entrarei em contato
com alguns professores, já tenho em mente o
nome dos amigos: Ricardo, Luís, Sebastiana,
Nilde e Antuninho. Estes respeitáves
mestres, são doutores das letras, e
certamente vão ser muito úteis nesta fazenda,
ainda não fizemos isto por displicência, disse
ele.
Com essa agradável conversa, Doquinha
convidou Luciano para conhecer o engenho e
a casa de farinha, um gesto de quem
dava-lhe o braço a torcer. Luciano aceitou e
rapidamente desceram o morro. Ao cabo de
alguns minutos, tornou lembrar, a educação
das crianças nesta fazenda é um barato,
resta apenas a eles dar oportunidade e mais
tarde vocês verão os resultados que isso vai
produzir.
Doquinha quando chegou no engenho,
apresentou ao amigo Luciano a dois irmãos:
António e Ferreira. Apresentou também os
genros: Calisto e Manoel e os filhos.
Depois da apresentação o velho usou o
costumeiro gesto que os garotos daquela
fazenda conheciam muito bem (menino não se
mete em conversa de adulto) e, imediatamente
se retiram do local.
Mesmo de longe notaram que a
conversa dos anciões era sobre o que eles
faziam no engenho e na casa de farinha. De
imediato Doquinha dizia ao visitante algo assim:
- Nesta casa fabricamos cachaça e
rapadura, um trabalho que começa de
madrugada e só termina no fim do dia, o
engenho para funcionar precisa de bois
mansos, essa junta que aí está trabalhando
é chamada de: Beleza e Azulão, meu neto
Choramingo é o tangedor de bois, isso quando
não está no roçado com seus pais, o nego
Quianca moí a cana, António faz rapadura,
Calisto e Manoel fabricam a indefectivel
farinha de mandioca, Ribamar como tem defeito
no braço direito faz no Jumento Piauí o trans -
porte da cana e da lenha, o Geneis e os demais
membros da família são os donos do sitio.
Luciano observou que era tudo muito bem
distribuído, no entanto, faltava o principal
(escola para educar toda aquela gente), com
essa preocupação rapidamente conversou
no pé do ouvido do velho amigo Doquinha,
uma conversa que a molecada não
entendeu, mas pelos gestos, pareceu que ele
confessou a falta de empenho dos mais
experientes em contratar professor para
lecionar as crianças da fazenda.
O depoimento de Doquinha não devia
valer muito aos olhos de um homem que
conhecesse bem todos os recursos que os
governos tem disponível para a educação.
Mas Luciano era um bom detetive, e na
mesma tarde mandou às autoridades da
educação municipal uma carta, contando o
estado d'alma das pessoas daquela
comunidade.
Houve algum avanço, marcaram para o
dia se guinte um jantar e para o fim de semana
uma viagem no povoado Escondido, local
onde Luciano residia com sua família.
Convidou também Chorumingo para conhecer
uma escola de ensino fundamental que havia
naquela localidade e como os seus
professores ensinavam a criançada e
rapaziada daquele lugarejo.
Um passeio que despertou ainda
mais Doquinha, a contratar para a Fazenda
Caxixi, mestres para ensinar Chorumingo e
os demais meninos da região, o que dentro
de poucos dias deixou Luciano ainda mais
contente com aquela família.
A viagem só durou uma semana, mas
neste percurso de tempo, Luciano ouviu
muitas palavras do amigo Chorumingo nas
quais sempre fazia com os olhos postos para
o chão, o que dava perfeitamente para
reconhecer que não era cinismo e nem
hipocrisia do rapaz, mas tristeza de não
conhecer as letras; o que fazia ele um ligeiro
gesto de sorriso no fim de sua fala, por
perguntar:
-Tu és meu amigo?
-Sim afirmou Luciano.
Que também compreendeu a vontade
e determinação do seu aluno em aprender algo
que ia lhe propiciar uma nova profissão logo na
primeira estação. Não há ternura que vá além
da determinação de um homem que quer
vencer; ao cabo desse tempo, imaginou ele.
Manoel e Maria que sempre estavam
próximo do seu filho Chorumingo rapidamente
entenderam a preocupação do menino e do
amigo e disseram, também estamos cansados
desse trabalho, vivemos em completa
abstinência do progresso e evolução do
mundo, estas crianças precisam estudar, mas
o trabalho da roça é assim, uma rotina que
não acaba mais:
-Primeiro vamos a mata, lá marcamos o
local onde haveremos de fazer a roça do ano
seguinte, depois com foice e facão broca-se o
mato rasteiro, com machado derrubamos as
árvores mais grossas, quando está seco
faz-se a queima, o corte da madeira é feito
logo em seguida, como nessa região os
animais são criados soltos as roças tem que
serem cercadas, encoivaradas, capinadas,
para poder ser plantadas, depois vem a
segunda capina e a colheita do que a terra
produziu. Dessa forma entra ano e sai ano,
todos trabalhando sem parar um só dia.
A caça é outra atividade que praticamos,
como esporte e também para sobrevivência, os
animais que abatemos, deles comemos a
carne e a sua pele vendemos para com o
dinheiro comprarmos: munição, roupas,
calçados, medicamentos e outros bens de
consumo.
Choramingo completou agora seus
dezessete anos, porém, sem letras, apenas
um rapaz trabalhador e ambicioso, cuja vida foi
até ali um singular luto e tristeza, um
melodrama: pois passa-se a sua adolescência
e os primeiros anos de mocidade a
suspirar por coisas positivas (estudos e
conhecimentos), mas por falta de escola só
conhece aquilo que o rádio de pilha que
compramos de um vendedor ambulante, fala
no progama Aquarela Nordestina e Voz do
Brasil em quem ligamos todos os dias, disse
Manoel".
Luciano sentado em um tamborete de
madeira ao redor da mesa de jantar refletia as
palavras do casal Manoel e Maria, que no
fim da longa prosa disse:
- Senhores, nada é impossível, quem
fé em Deus tem um dia será atendido e o que
estiver dentro das minhas modestas
possibilidades farei para ajudar este jovem
sonhador.
Foi o bastante para que Chorumingo
que estava do lado fitasse os olhos no rosto do
moço. Com um vocabulário de caboclo disse
ele:
-Companheiro Luciano, sou um
trabalhador, um analfabeto lavrador, vivo do
que produzo no roçado, de onde ganho o
suficiente para sobreviver, mas ainda tenho
esperança de um dia conseguir vencer o que
me isola das muitas coisas boas que exis
tem neste imenso país.
Luciano, composto de toda elegância
intelectual, disse ao interessado rapaz:
- Amigo você tem razão, venda parte de
sua produção, com o dinheiro compre um
animal de montaria, materiais e ferramentas
para a confecção de prótese dentárias e
vamos ao campo. Em trinta dias lhe garanto,
você já é um profissional pronto para ganhar
dinheiro, comprar novos equipamentos e
pagar os meus honorários profissionais, que
com muita honra pretendo lhe ensinar trabalhar
nesta profissão".
Chorumingo era naquela época um
trabalhador, de pouca estética e condição
financeira, mas com feições corretas, ele
tinha presença simpática e reunia à graça
natural de uma apurada elegância sem
defeitos virtuais. Seu espírito aparentava ter
duas fases: uma natural e espontânea, outra
calculada e sistemática de um experiente
trabalhador.
- Disse Luciano aos presentes, esse
menino tem futuro, só vi duas vezes, há seis
meses; no São Bento eu o recebi na casa do
Tatá, um amigo a quem sempre procuro
naquele lugar, o qual me hospeda com afago,
lá extrai dele quatro dentes sisos superior,
quatro meses depois no Brejo do João ele me
procurou para fazer sua prótese, na
oportunidade estava hospedado na residência
do amigo Itelvino, um seleiro de fama que
também gostava de prosear, lá além dos
serviços profissionais, falamos de caçada, um
esporte que tenho como hobe desde criança e
dele tive a honra de ser convidado para uma
visita nesta fazenda, como tudo tem seu dia e
hora marcada para acontecer, hoje quis Deus
que nesta terra eu descesse do meu alazão
trazendo na bagagem disposição
e reciprocidade para o cliente amigo
que encontrei nos longínquos deste sertão,
onde: estivemos conversando pouco mais de
duas horas, mas deu para sentir na pele que
ele era boa gente e inteligente.
- Esse pequeno espaço de tempo foi
suficien te para perceber que este rapaz tem
futuro e como tal, vos digo "dentista é um
trabalho que requer ha bilidade, coragem e
vontade daqueles que se dispõe aprender tão
nobre profissão, digo nobre porque os povos
que vivem no sertão são desassistidos pelos
poderes públicos e nós dentistas protéticos
somos os médicos que aliviamos suas dores,
melhoramos o visual facial e mastigação dos
que perderam precocemente os seus dentes.
E, como um profissional experiente vejo neste
garoto a possibilidade de que ele também seja
um grande doutor, basta que os senhores
invistam nele e para começar me comprome
to a ensinar-lhe os primeiros passos e dele
fazer um grande profissional liberal.
Mesmo tímidos, disseram Manoel e
Maria:
- Compreendemos a sua fala, mas
precisa o senhor saber que este menino é
analfabeto (não sabe ler e nem escrever)
assim como todos nós, não temos dinheiro
para comprar os equipamentos que ele precisa
e muito menos pagar os honorários que o
senhor merece".
Luciano retrucou-lhes dizendo:
-Vocês são muitos inteligentes e vosso
filho também, com um só mês de conversa e
um toque de habilidade ele aprende o
suficiente para ganhar experiência e um
pouco de dinheiro, com quem deve compra
parte do material necessário que irá precisar
durante o nosso trabalho.
-Permita-me sugerir algo interessante: venda
parte de sua produção, vá a cidade compre,
um pouco de material e ferramenta para
próteses dentária,o resto deixe comigo, que
com satisfação farei o possível para ensina-lo.
Doquinha, meu velho cliente quando me
encontra sempre fala do neto Choramingo,
fala também de uma viagem que o amigo
planeja fazer na cidade de Curador para falar
com seu advogado Valeriano a respeito da
legalisação de suas terras, uma viagem que
dá para o senhor resolver os seus negócios e
comprar os utensílios que seu filho vai
precisar para trabalhar como protético
dentário.
Luciano fez um completo panegírico (discurso
em louvor de alguém) da vontade que seu
cliente demonstrava ser possuidor e
finalmente retirou-se da mesa.
- No quarto em que Chorumingo dormia uma
rede atou para descançar um pouco,
deitou-se nela com o rosto voltado para a
janela que dava visão ao campo e a verde
floresta do sertão.
- - Chorumingo disse-lhe hoje para mim é
um dia muito especial, além de está
deliciando essa bela prosa com o amigo,
estou também, completando dezessete
anos de sofrimento nesta terra que tudo
que nela se planta dá, mas, a falta de escola
deixa nos sem opção de trabalho numa
profissão mais dig na e que seja capaz de nos
dar uma vida melhor.
- Luciano, dando um tom de voz com a rigidez
da resolução, respondeu lhe:
- - Amigo há neste mundo circunstâncias
que me obrigam a passar meus
conhecimentos aos que dele precisem e por
isto aqui estou disposto a lhe ajudar.
- Chorumingo seguiu a risca os conselhos e
instruções do amigo Luciano, lições que o
tempo demonstrava como as janelas que se
abriam para o progresso dos otimistas.
Dentro das suas possibilidades, foi se
equipando, nas veredas do sertão se
embrenhou em busca de fregueses e
aprender uma nova profissão. Em cada lugar
que chegava mais um amigo fazia. Com trinta
dias conseguiu seu primeiro
- cliente. Nele fez quatro extrações de dentes
e uma prótese, pelo serviço cobrou quatro
cruzeiros, uma sensação de quem já estava
preparado para enfrentar a profissão sem a
vigilância dos regalados olhos do mestre.
- "Escrever é fácil. Você começa com
- Maiúscula e termina com ponto.
- No meio você coloca ideias ".
- Pabolo Neuruda,
- poeta chileno
- PAIXÃO A PRIMEIRA VISTA
- No centro oeste do Maranhão, Choramingo
descobre Sâo Domingos, uma pequena
cidade da região dos cocais, a primeira que
conheceu na vida, o que causou paixão a
primeira vista.
- Quando retornou para seu torrão disse aos
pais que iria se mudar para São Domingos,
lá pretendia estudar e trabalhar na profissão
de protético dentário.
- Como marinheiro de primeira viagem as malas
começou arramar e no dia 20 de fevereiro de
1969, dos seus pais: Manoel e Maria,
Choramingo se despediu, deles recebeu as
benções e as recomendações que os idosos
sempre fazem aos mais jovems, dos irmãos:
Tonzinho; Neném; Analice; Rita;
Raimundo; Josimar; Orismar; Viturina e
Vicência, apenas se despediu com um olhar
chorão.
- - Depois dos beijos e abraços saiu em direção
- do seu alazão em quem montou-se e seguiu
por uma estrada empoeirada a sua viagem.
- Às seis horas da tarde chegou no destino
final, lá não conhecia ninguém, mesmo assim
pediu abrigo na residência de D. Eriquita,
uma senhora de respeito que aparentava ter
cinquenta anos, que muito desconfiada com
a presença daquele destemido rapaz que
batia a sua porta pedindo um aposento, com
sua experiência de meia idade, olhou bem
no rosto, viu que se tratava de boa gente,
sem mais demora deu-lhe hospedagem,
uma estadia que durou sessenta dias,
tempo suficiente para que Chorumingo
fizesse a sua matricula em uma Escola
Municipal e arranjasse um local para morar e
montar sua tenda (gabinete dentário).
- Fez também neste intervalo de tempo
amizade com a professora Simplícia, uma
pedagoga que com carinho ensinava quem
lhe procurava. Essa moça simpática era
cunhada do vereador mais conhecido da
cidade, um homem caridoso que quando
podia ajudava as pessoas de forma
elegante, Chorumingo que estava
determinado vencer na vida dele se
aproximou e pediu um lugar para montar sua
tenda de trabalho e morar.
- Gentilmente o vereador lhe atendeu, dizendo
- o que tenho disponível é um depósito de
algodão, se você quiser está a sua
disposição, lá tem espaço para o consultório
e moradia, informo também que não vou lhe
cobrar um só tostão por todo o tempo que
você lá ficar.
- - Amplo era o local, porém sem conforto, piso
de chão batido, paredes sem pintar e muita
poeira do algodão, mesmo assim Chorumingo
fez uma divisória com um tecido que ganhou
do seu tio, Sebastião que também era
vereador. A reforma durou três anos.
- Na pensão do povo fazia suas refeições,
para o proprietário Alfeu pagava por mês
vinte cruzeiros. A jovem Socorro lavava as
roupas que sujava, pelo serviço Chorumingo
pagava mês, cinco cruzeios.
- Dias mais tarde o vereador Sebastião,
ofereceu-lhe medicamentos para vender no
interior, um serviço que fazia nos fins de
semana e feriados.
-Aponta de dedo Chorumingo escolhia os medicamentos
que já conhecia, numa mala os
colocava e embrenhava no campo. O primeiro
povoado que visitou foi a Lagoa Nova, lá
vendeu quase todo estoque, um apurado de
vinte oito cruzeiros, ao retornar a cidade foi logo
a farmácia do tio, do bolso tirou o dinheiro e
disse:
-Quero pagar a minha conta.
-Calma disse Sebastião, primeiro veja o que
está precisando e depois faço a nota, pelo o
que já levou só vou cobrar oito conto.
Chorumingo vendo aquilo sentiu mais
vontade de trabalhar, pois o ganho que teve
na primeira viagem deu para pagar a pensão,
os serviços dentários que fez por onde andou,
também rendeu um pouco de dinheiro, que
deu para pagar a lavandeira.
Assim foram três anos de trabalho, que
deu re sultado, pois além de aprender mais da
profissão, ga nhou um pouco de dinheiro que
mais tarde deu para comprar: farda, calçado,
roupa e material para o consultório. O resto
que sobrava era grudado na maior
sagacidade, no fundo do baú, um local segu -
ro. No fim do ano, o cofre foi a berto, o dinheiro
que tinha dentro deu para comprar uma
Bicicleta nova, um transporte que lhe serviu
bastante na vida de mascate viajante.
Na escola sempre foi o primeiro, na
pontualidade, comportamento e nas notas, o
que melhorou bastante as coisas para o seu
lado. Dois anos depois suas mestras:
Amparo, Maria e Simplícia, diplomado como
concludente do ensino primário e por ter sido
um aluno exemplar, delas recebeu o trofeu de
estudante nota dez, um sonho que ele tinha
desde pequeno.
"Creio que escrever um livro é a experiência
mais próxima ao dar à luz que
um homem pode ter".
John Stott,
autor e reitor emérito de
AU Souls Cburcb,
Londres
O CRAVO E A ROSA
O roteirista de telenovelas, Gilberto
Braga, confessa que é um grande sacrifício
escrever um livro. Aqueles que se dispõem
tem que deixar de frequentar cinema, leitura de
best-sellers, escutar músicas entre outros tipos
de lazer.
Provavelmente, esse tipo de sacrif ício
não tenha nada a ver com a vida deste autor,
pois tudo que escreve é dividido com as
tarefas do seu dia-a-dia, lazer e leitura de
romances, dos quais tanto gosta.
- No seu ponto de vista o escritor precisa
ter uma mentalidade - um preparo e
disposição se pretender produzir algo de
valor literário. Creio que posso com isto ser
bem objetivo no que estou tentando
dizer. Cravo e a Rosa, foi uma
imaginação que tivemos quando obcervava
Menino Chorumingo no aeroporto de São
Domingos do Maranhão.
-No inicio da década de setenta, o cantor
José
Augusto chegou de avião à cidade de São
Domingos para fazer um show recreativo, lá
no aeroporto muitos fãs estavam a sua
espera, uma área afastada
da cidade, porém, florida com cravos e
rosas. As flores perfumavam toda aquela área,
o cravo e a rosa, então, eram os mais
cheirosos.
Chorumingo também lá estava, do seu
lado ha via uma simpática jovem, que
aparentava ter lá os seus vinte dois anos, os
dois se olharam com troca de gestos e se
aproximaram, a ela perguntou o rapaz:
-Qual o seu nome?
-Rosa - respondeu! E você é o Cravo
que
perfuma este lugar, concluia a moça!
-Sim respondeu o rapaz!
Esta conversa aproximou ainda mais
um do outro. Já com um pouco mais de
intimidade os dois combinaram um encontro
no salão onde iria realizar-se o show,
certamente ali iria tornar-se em um clima legal.
No baile muitos rapazes se encontraram,
todos ladeados por suas damas. Chorumingo
que passou ser chamado pela moça de Cravo
chegou sozinho numa mesa de canto se
sentou para tomar um refrigerante, quando de
repente aparece Rosa ladeada por várias
colegas, no canto avistou o rapaz que ela
apelidou de Cravo, este estava de cabeça
baixa, como quem imaginava, será que vou
ficar a noite inteira sozinho nesta festa? Mas
um psiu descontraído suou ao seu lado. Ao
levantar a cabeça viu Rosa do seu lado, com
afago imediatamente a convidou para sentar a
sua mesa, educadamente ela aceitou o convite
e assentou-se do seu lado.
Estava tão bonita aquela nobre moça que
Chorumingo logo lhe fez um elogio, com sorriso
olhava aquela tranquilidade, um copo de
bebida ofereceu e indagou, sobre a sua
família, a principio ela ficou assustada, mas
entendeu. Com palavras dóceis respondeu
ao rapaz:
-Meus pais chamam-se, Cordeiro e
Maria e somos três irmãos. E, já que me
pergunta sobre família, fale-me também da
sua, dizia a donzela!
Chorumingo como sempre foi uma
pessoa extrovertida, sem rodeio respondeu a
moça:-
Meu pai tem nome de rei e a minha
mãe de rainha: Manoel e Maria é como foram
batizados, tenho nove irmãos: António,
Neném, Analice, Raimundo, Rita, Josimar,
Orismar, Vitutrina e Vicência. Somos todos
caboclos e agricultores por profissão lá no
médio sertão, aqui estou estudando e
trabalhando como mascate viajante de fins de
semana, pois durante os dias útes da
semana, trabalho como protético dentário e a
noite estudo na escola Municipal Duque de
Caxias. Moro em um armazém do vereador
João. Naquele momento os músicos
aqueciam os tambores, uma valsa foi a
primeira música a ser tocada.
A professora Amparo e o Vereador João,
duas criaturas típicas de elogios, pois eram
portadores de extrema bondade. Gostavam de
conversar, rir e discutir política e educação.
Chorumingo, brincando com Rosa, dizia-lhe
aquele casal foram até ali na realidade seus
segundos pais. Como a mesa do casal ficava
próximo, riram em ver aquela conversa tão
inocente, mas com personalidade positiva
compreenderam que o rapaz humildemente
faziam-lhes elogios.
O vereador e sua esposa Amparo
fizeram bonito no salão, começaram a
dançar, uma valsa que despertou muitos
casais a valsarem também, inclusive
Chorumingo e Rosa que também dançaram.
No caminho foram abalroados por um casal
valsante; mas
os dois se equilibraram com felicidade,
porque observaram que o casal que
atropelaram era Luiza e Maria.
Rosa era uma linda mulher, figura delgada,
rosto angélico, formas graciosas, toda languidez
e eflúvios. Fazia o mesmo efeito que um vaso
de porcelana fina, o qual se toca com receio de
quebrar. Tinha grandes pretensões a mulher,
que não lhe ficava mal naquela idade de
transição.
Choramingo ou Cravo, como queira, na
intimidade de namorado passou-lhe a mão à
cintura, e ela estremeceu da cabeça aos pés,
depois entregou-se à valsa com aquele
abandono que a dança prescreve ou permite
entre os seus pares. A agitação coloriu-lhe um
pouco mais as faces, como mentes descoradas.
Talvez pelo fato de terem trocados
alguns beijos, ela estava ofegante.
O que lhe realçava a beleza, um
sentimento de modéstia consciência que ela
tinha de suas graças, uma coisa semelhante à
tranquilidade da força. Tinha o rosto levemente
alongado, com feição pensativa grave,
cabelos longos e castanho, a pele era um tanto
branca porém rosada e macia; a testa lisa
e bem moldada; os olhos brilhavam como um
rabi depositado num instante de simpatia.
Quando terminou aparte, Choramingo
convidou-a a sentar-se novamente na sua
mesa, mas ela preferiu antes dar um passeio
no pátio do clube onde as suas irmãs estavam
conversando com os amigos. Ao retornar a
sala, foi lhe perguntando porque en contro
como aquele não se fazia mais vezes; o rapaz
concordou que sim, no entanto, ficou um certo
tempo imaginando no dinheiro que era
escasso rapidamente desculpou-se dizendo
que a sua escola e o I trabalho tomava-lhe
todo o tempo, mas Rosa retrucou, nem só do
estudo e trabalho vive o homem, encontros
como esse é bom que aconteça sempre.
Choramingo novamente interrompeu a
conversa para chamar atenção, sobre a beleza
da moça, o que muito surpreendeu, pois, foi a
preocupação com os elogios que
despertava-lhe a imaginar se aquilo tudo era
real. Fez-lhe um novo cumprimento à beleza
dela e passou a contemplar as virtudes da
donzela rainha que tinha encontrado em um
jardim.Rosa tinha ar de rainha - como
dissera Choramingo - uma natural
majestade, que não era rigidez
convencional e afetada, mas uma grandeza
involuntária. A impressão do rapaz
parecia-lhe que a alma da moça era de
satisfação quando viu aquilo do pretendente
em te-la como namorada.
-Será rainha da noite, disse Choramingo,
mas parece que não serei eu aquele que lhe
faço a corte.
Parece orgulhosa; há de tratar a todos
como seus futuros clientes. Não vê com que
ar de leveza ouve ela aquelas palavras que
lhe dá o abraço final?
Pouco tempo depois o garçom serviu a
mesa com uma bebida mais forte, os dois
beberam e se dirigiram para o interior do
salão, onde o cantor estava dando autógrafos,
a moça para ele entregou seu diário que foi
imediatamente rabiscado; naquele momento
Choramingo arregalou os olhos e correu no
salão, onde entrava alguns parentes da
donzela que falavam entusiasticamente do
Vereador Sebastião, um político que tinha fama
de médico, por ser proprietário da Farmácia
dos Pobres daquela cidade. De repente, ele
apareceu na festa com sua mulher Santana,
atravessaram a sala para ir saudar o cantor.
Sebastião aproveitou a ocasião para fazer
com que os dois se aproximassem; trocaram
algumas palavras, depois de um rápido
cumprimento, e, daí a pouco, tendo-se ouvido o
prelúdio de um bolero, todos se retiraram.
-Choramingo e Rosa ficaram naquele
baile o tempo todo, conversando com franca
intimidade. Se bastião, estava impressionado
com a presença daquele casal de jovens.
Elogiou Cordeiro, pois-lhe em relevo
qualidades que ele tinha herdado da família.
Após os elogios volta a sala somente quando
se dançava os últimos passos do bolero uma
dança típica daquela época.
Rosa estava esplêndida de graça e
alegria. Nenhuma afetação nem
acanhamento, seus movimentos eram
desembaraçados e modestos. Sebastião com
suas brincadeiras familiares procurou ver se o
rapaz estava nas boas graças da moça,
mas, da posição em que estava, os olhos não
podia encontra-se. Mas alguém lhe mostrou a
mulher do Cordeiro: vinte anos era o que
parecia ter, bonita, morena, digna de inspi rar
amores, a um marido, que estava casado há
pouco, mas que parecia querer queimar os
perfumes que a esposa usava e voltava as
suas atenções para uma outra mulher que
estava na festa.
Quando o show acabou, Chorumingo
despediu-se dos amigos, da moça que lhe fazia
companhia e quis se retirar do recinto, no que
foi impedido pela moça.
- Sem resistência foram-se os dois
sentar em um banco da praça, lá a moça
falou-lhe da amizade que o irmão lhe tinha, e,
dentro de pouco tempo, a conversa entre os
dois foi perdendo a cerimónia. Passaram
a falar do baile; Rosa manifestou com
alegria suas impressões, porque ela vinha da
roça, onde teve vida reclusa e isolada da
sociedade civilizada. Falou também da viagem
que pretendia fazer a Recife, e confessou que
era um desejo antigo e sempre adiado.
Finalizou sua fala revelando que seus pais
estavam se mudando para Santa Inês, uma
cidade prospera; perguntou-lhe por fim se
Chorumingo pensava em visita-la naquela
localidade.
-Com hábitos constantes de viagem pelo
campo, disse que pretendia apenas dali para
frente dedicar-se aos estudos e serviço do seu
consultório, resumidamente dizia que,
dificilmente faria isso. E
acrescentou:
-Eu participo da natureza, das plantas;
fico por aqui. Vossa excelência será como as
andorinhas que voam e se mudam de um lugar
para outro quan do bem quiser, disse para
moça que lhe interrogava.
Dali dirigiram-se para o seu lar, onde
Rosa demostrou sem vontade, por isso
permaneceu mais tempo do que prometera,
milagre devido a sinceridade que soava no
seu rosto, e saiu no meio de um murmúrio de
curiosidade dos mais jovens que passeavam
naquele momento por aquela praça.
No dia seguinte, Chorumingo fez-lhe uma visita,
conversou com seus pais que estavam
próximos a se mudarem para outra cidade.
Essa mudança, deixou os dois quase um ano
sem notícia. Durante esse tempo Choramingo
não soube do que ocorreu por lá: não
recebeu carta ou qualquer outra notícia. A
primeira que recebeu foi uma informação
dada por sua irmã Luiza de que Rosa tinha
conquistado o coração de outro e fugiu para
lugar ignorado.
Chorumingo ao tomar conhecimento da situação
de que Rosa tinha conquistado outro,
deu os parabéns ao senhor Cordeiro, elogiou
sua filha, esse respondeu com outros tantos
elogios, o que fez Chorumingo pensar que, se
dentro de tão pouco tempo sua sinceridade
poderia ser desfeita sem as devidas
justificativas.
O desaparecimento do conv ívio
social de Rosa, foi também o fim de um sonho
que Chorumingo teve com ela.
Apesar de ser tímido Choramingo era
extrovertido, razões estas, que atraía muitas
garotas, no entanto, ele pouco dava
importância aos assédios que recebia da
moçada. Estudar e trabalhar, era seu principal
objetivo, tanto é que no ano seguinte concluiu
a primeira etapa do ensino fundamental e
prestou exame de admissão, um estudo
indispensável aos
estudantes daquela época que pretendiam
matricular-se no ginásio.
A política, o dinâmico Chorumingo tendo
concluído seu primeiro grau menor, foi filiado
na ARENA (aliança renovadora nacional), um
partido político de grande projeção naquela
época, foi também por seus pares escolhido
coordenador da campanha eleitoral dos
amigos:
Francisco Maia, João Torres, José
Freitas, Sebastião Mota e Sousa Lima. Um
convite que Chorumingo aceitou, não sem
relutar internamente, mas acei tou. Vale, pois,
não o tamanho da responsabilidade do cargo
"coordenador de campanha eleitoral".
Com garra e determinação, Chorumingo
foi ao campo pedir o voto dos eleitores.
Naquela época ainda não existia a lei de
responsabilidade eleitoral, razão esta que
proporcionou-lhe a livre iniciativa de servir os
eleitores dos amigos com: três mil e cem
extrações de dentes e duzentas dentaduras,
tudo isso sem custar um só centavo aos
candidatos que apoiava para o executivo e
legislativo municipal de São Domingos do
Maranhão.
- Foram três meses de muito trabalho,
para apenas um resultado parcial, pois o
principal candidato
perdeu a eleição, apenas três se
elegeram a vereador, um resultado que lhe
causou muitas chacotas, como não era de
confusão, calado aguentava tudo mordendo o
beiços, até que no dia trinta de dezembro
uma passagem comprou e embarcou para
outra praça.
"Se as palavras vão penetrar no coração
dos
homens e produzir fruto, elas precisam
ser palavras certas, lavradas com
perícia, para vencerem as
defesas humanas e
explodirem silenciosa
e eficiente em suas
mentes ".
J.B. Phillips,
tradutor inglês
A TERRA QUE CHORUMINGO
ESCOLHEU PARA MORAR
Para Luís Fernando Veríssimo, um dos
escritores contemporâneos mais prolíferos
de todos os tempos, o importante é comunicar
bem.
Aqui temos um problema. A capacidade
de comunicar bem resulta de técnica e talento,
uma coisa que você leitor, é quem vai dizer no
fim da leitura deste livro.
O autor dessa obra fez de tudo para
interpretar o que presenciou durante cinquenta
anos na vida de um Menino Choramingo, um
garoto que saiu lá
dos confins do sertão maranhense, onde
nasceu e se criou, viveu até os dezoito anos,
trabalhando na agricultura de subsistência,
sem saber ler e nem escrever, mas com
determinação ele conseguiu aprender uma
profissão de valor, conhecer novas
perspectivas de vida, inclusive a mudança
de domicilio, uma transferência que deu-lhe
vários diplomas a nível superior, uma
empresa comercial e uma sólida família. -
Depois que seus amigos perderam a política,
na qualidade de cordenador da campanha,
muitas chacotas recebeu dos seus
adversários, o que o despertou a mudar
para bem longe dali.
Já se fazia vinte anos que os guerreiros
do progresso tinham partido o Brasil ao
meio, com uma estrada de chão batido, em
cujo caminho surgiram muitos povoados. Em
um deles Choramingo escolheu para morar e
trabalhar. Ali no portão da Amazónia, Oeste
do Maranhão, um lugar totalmente agradável,
um refugio perfeito que a natureza projetou
para muitos regozijarem da sua beleza.
Neste paraíso, Menino Choramingo escolheu
para morar o resto de sua vida.
A chegada neste lugar deu-se mais ou
menos assim:
Às dez horas do último dia que
pertencia ao
mês de dezembro de um ensolarado
domingo de 1972, de uma Rural desce
Menino Chorumingo. Quando pisou no chão
empoeirado da nova terra, do porta-mala do
carro tirou sua bagagem (uma pequena mala)
que dentro guardava seus minguados
pertences. Tinha também, uma Bicicleta e
ferramentas para dentista protético.
-Em cima daquela mercadoria ficou
sentado como cão sem dono apenas
pensando para onde ia, quando de repente na
estrada que ficava do lado,
passa um caminhão trazendo outros
aventureiros como ele. Neste momento foram
muitas as imagina ções; se sentia perdido, no
mato sem cachorro, como vou fazer?
Olhando para o que se passava ao seu
redor, viu que muita gente subia e descia o
morro que ficava de frente para o mercado
municipal, uma feira arrojada que atraia
muitos camelos.
Entre tantos, que por ali passavam,
aparece um simpático ancião, que de
Chorumingo se aproximou o cumprimentou e
perguntou:
-O senhor espera alguém?
-Não disse ele!
- Por acaso, precisa de um lugar para se
hospedar, insistiu o velho ancião!
- Sim respondeu o Menino Choramingo.
- Apontando com a mão o velho
mostrou:
- Ali esta o Hotel Açailândia, para o
senhor faço um preço camarada. E logo foi
pegando a sua bagagem e levando para
aquela modesta casa de hospedagem, que
era na época coberta com cavacos e paredes
de taipa. Em um quartinho Choramingo ficou
hospedado. Almoço e jantar estava embutido
na mensalidade, de vinte cruzeiros.
- No dia seguinte por maltratadas ruas
saiu Choramingo informando os moradores,
que tinha acabado de chegar naquele lugar
um especialista em próteses dentaria.
Foi o suficiente para em poucos dias
formar uma boa clientela, o que lhe
proporcionou a compra de um terreno, nele
construiu uma casa para morar e trabalhar.
Numa de suas salas montou o consultório e na
outra uma empresa comercial, o restante
ficou servindo de residência.
Não havia ginásio em Açailândia naquela
época como ele pretendia continuar seus
estudos, escreveu uma carta ao Instituto
Universal Brasileiro de São Paulo,
solicitando material de estudo por
corespondência do primeiro ano ginasial
(quinta série nos dias de hoje).
No ano seguinte, 3 de março de 1974,
juntou-se com os professores: Luís
Gonzaga, José Nunes, Washington e Sandra
Silva e fundaram o Ginásio José Nunes, onde
foi matriculado no segundo ano ginasial. Na
mesma comunidade ajudou fundar:
Associações e Clubes culturais e prestação
de serviços. Mais tarde das escolas foi
professor e das Associações e Clubes
presidente.
Em março de 1977, matriculou-se na
Escola José Américo de Almeida, onde foi
no dia 13 de dezembro de 1980, diplomado
Técnico em Contabilidade. Foi também,
orador da turma e autor desse discurso:
Senhor Diretor, Secretários,
Professores, Colegas Concludentes,
Autoridades Civis e Eclesiásticas, e Amigos
Aqui Presentes.
Alguns anos passados chegava eu,
neste Colégio, na condição de aprendiz das
primeiras letras do segundo grau, quando me
foi dada a graça de ser matriculado na 8o série
ginasial, matrícula esta que se perdurou até o
presente momento. Momento este que
concluímos nosso segundo grau maior. Aqui
durante este período fomos orientados pelos
nossos amados mestres e pelos livros que
eles adotaram a quem seguimos à risca até o
fim do curso.
Hoje, na qualidade de concludente do
segundo grau e Técnico em Contabilidade,
assim como os demais colegas que
receberam este Diploma, um documento
que da direito exercermos a profissão de
contador, porém, com responsabilidade e
honradez em todos os trabalhos que iremos
prestai" a nossa comunidade. Reconhecemos
também que o compromisso ora assumido
de viva voz, dizemos, que este diploma
nunca servirá de vaidades pessoais e sim
de autorização para o uso da nossa
profissão, para a qual nos preparamos.
Mesmo assim, tenho a convicção de que por
muitas vezes será necessário consultarmos
os livros e também os nossos mestres, pois
sem as suas orientações a continuação do
nosso trabalho poderá ser prejudicada.
Consultas estas que certamente servirão de
base para transmitir àqueles que vierem até
nós, em busca de esclarecimentos, pois com
conhecimento, adquirimos muito mais
confiança dos nossos clientes e também
uma base mais sólida para o trabalho que ora
se inicia.
Aqui estamos com a convicção
absoluta de que compomos uma equipe de
contadores que juntos procuraremos dá a
polidez deste Colégio que nos premia
como Técnicos em Contabilidade. Procuraremos
ainda conservar esta profissão
com amor,
respeito e, sobretudo, dar aos nossos clientes
a qualidade nos serviços prestados.
Queremos endereçar nossas palavras a
todos os mestres e familiares, suplicando à
eles, todo apoio necessário para o
enriquecimento do nosso traba lho,
principalmente, quando estivermos no
exercício da profissão, pois sem este apoio
nosso êxito será minguado. Aos nossos
futuros clientes, pedimos que nos dêem
firmeza e coragem para trilharmos o espinhoso
caminho que escolhemos em busca da perfei -
ção.
Senhores professores e futuros clientes.
Rece bam destes novos contadores e amigos
nossos mais sinceros agradecimentos e ao
regressarem aos vossos lares transmitam aos
seus familiares e amigos que aqui não
puderam se fazer presente, estas recomendações,
e a preferência a nós dispensadas. A
quem Rogamos ao Grande Arquiteto do
Universo que continue iluminando a todos e
auxiliando-nos nas caminhadas do dia-a-dia
que haveremos de enfrentar doravante.
Finalmente, pedimos permissão para
lembrar a memória daqueles irmãos e
colegas que já foram convocados para o
colégio celestial. Companheiros aqueles, que
quando em vida deram formação exemplar a
muitas famílias, por terem se conduzido no
caminho da retidão, hoje colhem os loiros dos
vossos ensinamentos lá no paraíso.
A Deus oramos pedindo que nos momentos
difíceis da nossa profissão seja dele a palavra
final, evitando assim que seja cometida
injustiças aos nossos mestres, colegas,
amigos, clientes e familiares! Obrigado,
13/12/1980.
"Se alguém quer mudar de vida,
tem que ir atrás dos fatos,
eles acontecem naturalmente ".
Evangelista Mota Nascimento,
professor e escritor
A FAMÍLIA UM BEM DE TODOS
A família é a mais antiga instituição na
terra, e que cumpre papel vital na construção
da sociedade humana. Nesta vertente
podemos citar dois exemplos, um do homem
e outro de Deus.
Por exemplo, o homem para construir um
prédio exige preparação meticulosa. Antes de
lançar o alicerce, é preciso adquirir o terreno
e desenhar a planta. Contudo, algo mais é vital.
Jesus disse: "Quemde vós, querendo cosntruir
uma torre, não se senta primeiro e calcular a
despesa, para ver se tem bastante para
completa-la?" - Lucas 14:28.
O que se aplica a construir um prédio
aplica-se também a constituir uma boa
família. De igual modo pensou Chorumingo
quando quis se casar.
- Passaram-se seis anos sem que ele
retornasse a sua terra de origem, lugar onde
deixou familiares e amigos. Mas tudo tem o
seu dia para acontecer,
quando de repente resolveu retornar a sua
terra natal, apenas para visitar os parentes e
amigos.
Numa bela tarde de 15 de novembro de
1976, ele tomou a direção de seu veículo de
passeio e seguiu viagem, o carro era novo,
uma Brasília branca, com som e outros
adereços de um bom rapaz solteiro.
Inicialmente andou cem quilómetros
numa boa estrada asfaltada, depois tomou
outra de chão batido, poeira, lama e buracos
era só o que tinha naquele caminho.
O sol já se escondia na serra do rio
Mearim, quando avistou as palmeiras e a
torre da Igreja Nossa Senhora de Fátima, na
bonita Praça da Bandeira de Barra do
Corda, Choramingo fez a sua primeira
parada, para visitar a prima Raimunda, uma
moça que despontava com brilho no
magistério, no entanto, dela só pode ver a
fotografia que estava sobre a mesa de sua
casa. Com Ana e Daniel conversou um
pouco e logo se retirou.
Foram cincos dias de passeios nas
várias cidades dos cocais, onde se
encontrou com muitos amigos e parentes.
Ao retornar, novamente deu uma parada na
Barra, como já era tarde resolveu ali pernoitar
na residência da prima. Dessa vez
com ela se
encontrou, de quem logo recebeu convite
para assistir na igreja um culto de ação de
graça, que estava sendo dirigido pelo Pastor
Abdiel. Aquele Ministro de Deus falava com
elegância para todos os presentes, cujas
palavras era direcionadas para o amor e a
responsabilidade da família.
Chorumingo que estava sentado no
banco da frente ao lado da prima, ficou atento
aquela pregação, porém nada comentou. Mas,
ao retornarem para casa deram uma
encostadinha na Praça Melo Uchôa, ali os dois
ficaram por alguns minutos deliciando a brisa
do rio Corda que passava próximo dali, uma
conversa tanto discreta, mas com tom de
quem queria oferecer alguma coisa, a moça,
graciosa e cortês, se mostrou um tanto
reservada, mas o convidou para ser padrinho
de sua formatura, uma festa que estava
programada para o dia 17 do mês seguinte.
Com a volubilidade da noite que estava
passando a moça falava dos preparativos da
festa; esquecia-se às vezes de si e dos
outros. Duas vezes lhe aconteceu deixar
uma resposta sem pergunta e uma pergunta
sem resposta. Uma conversa um tanto tímida,
mas Chorumingo encarregou-se de preencher
os intervalos com assuntos que deixou a
moça mais a vontade.
Quando se levantou do banco,
Chorumingo quis sair, mas a prima insistia
para que ficasse mais um pouco. O ato foi
curto; mas o rapaz nada viu do que se
passava na praça, porque passou o
tempo todo a observar a prima falar
timidamente, que, se reclinava no banco,
mas ele atento a tudo acompanhava o
diálogo dos passeantes da praça. No
entanto, pensava consigo em que estaria a
moça naquele momento pensando.
Olhava, mas não via a cena. Estará
ela à espera de algum namorado remisso
(descuidado)? Ela desconfiou de que
estava sendo observada suspirou fundo e
disse:
- Não repare a minha desatenção, pois
neste momento estava pensando no que
podemos oferecer a visitantes como você.
Pensei também no meu ex-noivo, um rapaz
que tive namorando por muito tempo, mas na
semana passada nós desentendemos e
terminamos o namoro. Chorumingo que era
um autêntico psicólogo começou entender a
dama e o seu sentimento de paixão, concluiu
que ela ainda o amava, não havia dúvida.
Basta ver como brilham os olhos a cada frase
do diálogo expresso.
Enfim, a moça, que já tinha suspirado
fundo, parecia ter voltado à sua preocupação,
levantou-se
dizendo que se retirava. Chorumingo pediu-lhe
para ficar um pouco mais, mas ela insistiu, tinha
que ir para casa. Como nada mais restava, ele
a acompanhou até o carro e a deixou em sua
residência, onde também estava hospedado.
Lá chegando encontrou na sala uma
confortável rede de algodão atada, nela se
deitou para dormir, a moça pegou no punho
da rede e disse, "você aceita ser meu
padrinho de formatura no dia 17 de
dezembro".
Imagino eu, que naquele momento
Chorumingo ficou sem palavra, apenas
imaginando. Dentre tantos ilutres rapazes
baracordences, aquela respeitável
professora, escolheu a mim, para ser seu
padrinho de formatura. Mas ateitou. Imagino
também, que ele pensou. Vale, pois, não o
tamanho do desafio e a responsabilidade de ser
padrinho de uma jovem professora. Sentado na
rede sei que ele ficou por algumtempo sem dá
a resposta, isto porque até onde sabemos,
Chorumingo era correto das suas decisões.
Seja lá o que aconteceu, deduz-se que a
moça deve ter ficado um tanto constrangida,
imaginando que o seu convite poderia ser
regeitado.
Como naquela época, moça que se
presava não ficava muito tempo amolando
rapaz, imagino que
logo ela se recolheu no seu quarto,
certamente pensando que decepção, com
toda delicadeza convidei este moço para ser
meu padrinho de formatura e ele não
demonstrou nem um interesse, que fazer?
Mas o filósofo Chorumingo, estava
meditando como responderia a prima
professora. Deitado naquela cheirosa rede,
certamente pensava também, se aquilo seria
acaso ou ilusão? Pareceu-lhe subir a
pressão, nem sei se dormiu bem naquela
noite.
Quando o dia amanheceu no rio
Corda que ficava próximo dali, um banho
tomou se perfumou e trocou de roupa, foi a
sala de jantar tomar o café dá manhã, onde o
resto da família já estava lhe aguardando.
Sem mais formalidades uma oração de grati -
dão a Deus fizeram, agradeceram também o
pão, o novo dia que se iniciava e pediram do
Pai Celestial muita saúde.
Terminado a oração todos se sentaram
ao redor da mesa e serviram-se de tudo
que ali estava exposto: frutas, leite, bolo e o
indefectível beijú de tapioca. No decorrer do
lanche Chorumingo fez uma pausa, suspirou
fundo e a professora respondeu:
- Vale, pois, não o tamanho da
responsabilidade, mas aceito o desafio de
ser seu padrinho de formatura. Peço
desculpa, mas tenho que viajar, despediu-
se de todos prometendo retornar no dia e
mês marcado para a realização da festa (17
de dezembro de 1976).
A meia noite do dia marcado Choramingo
bate a porta da terceira casa da praça da
Bandeira, lá Daniel que era pai adotivo da
professora já estava aposto na janela
esperando-o para hospeda-lo. Depois dos
cumprimentos ele na sala atou uma rede de
labirinto, o lençol estava perfumado, nela se
deitou e dormiu até as nove do dia seguinte.
Quando se levantou um banho tomou e o café
da manhã também, depois saiu para visitar
alguns amigos, às doze retornou, para o
almoço, foi uma surpresa, havia naquela casa
muitos parentes esperando-o para almoçarem
juntos, autoridades da cidade também lá
estavam para se deliciarem daquele fraternal
banquete. Antes de serem servidos a
professora Raimunda fez uma oração de
gratidão a Deus. Agradeceu também, os
alimentos e a presença dos parentes.
Terminando a prece do lado do paraninfo
Choramingo se sentou e com carinho de mãe
o seu prato serviu.
- No fim do almoço, Pedro, um dos
convidados solicitou a palavra para um
agradecimento fazer. Devidamente
coordenado em rima, ele agradeceu
todos os presente e concluiu sua fala
dizendo j "para que aquela resta se
torne justa e perfeita, fa-| zia-se
necessário que o Juiz celebrasse o
casamento de Chorumingo com a professora
Raimunda.''
A insinuação de Pedro, foi como um incêndio
que do nada surgem e em pouco tempo
tudo está consumado. Às cinco horas da
tarde daquele mesmo dia, Choramingo e
Raimunda estavam reunidos com o juiz,
escrivão, parentes e amigos na sala nobre do
Cartório Almir Silva, para receberem do doutor
casamenteiro, o veredito matrimónio.
Já como marido e mulher às sete foram a Igreja
Matriz Nossa Senhora de Fátima para
receberem das mãos do Frei Jesualdo, o
Diploma de Professora. Naquele momento
com gesto de cavalheiro, Chorumingo,
deixou perder a fronte e a sua mão bei jou, no
entanto, nada disse. A comoção
embargou-lhe a voz; a reflexão ímpôs-lhe
silêncio. Iniciava-se ali, uma nova aventura,
era natural que ele saísse dali vaidoso e
triunfante marido. Entretanto, apesar de
todas as vitórias, ia de certa forma pensando
consigo:
- Fui longe demais, dizia ele para si.
Que posso eu dar a essa moça para que
lhe corresponda satisfatoriamente? Pois
hoje mesmo tenho que voltar
para a terra do Açaí, estava radiante de
felicidade, trémulo de alegria, porém
preocupado porque nada tinha programado
para tão grande e inesquecível
acontecimento.
Terminado a cerimónia de
formatura, Choramingo, que já era marido
da professora Raimunda que tinha
apadrinhado, convidou o pai da donzela para
com ele ir até Açailândia, a cidade onde
morava, o velho concordou e logo as malas
arrumou, quando o galo cantou os três dos
seus aposentos se levantaram e embarcaram
na Brasília, por uma estrada enlameada
partiram em direção do leste, na cidade do
Porto, viraram em direção do norte, po-, rém,
a estrada era asfaltada, uma novidade para
aqueles dois ilustres passageiros, pois na sua
região só havia estrada de chão batido.
Apesar de um trânsito mais intensivo
naquela estrada deu para os dois conversar
um pouco sobre aquela longa viagem, o velho
João que silenciosamente viajava no banco
de traz do carro, parecia um tanto desprezado
pelo casal, mas entendeu, dirigir é uma arte
que merece muito cuidado.
Já passava do meio dia quando os três
chegaram no destino final. Numa residência
simples o carro foi guardado na garagem,
num sofá que estava na
sala se sentaram enquanto aguardavam a
irmã Analice servir o almoço. Depois foram a
Imperatriz, uma cidade vizinha dali, lá
Chorumingo cumpriu alguns compromissos
que já havia agendado, deixou o sogro
João no terminal rodoviário e com a mulher
e sua irmã retornaram para casa.
Como era muito tarde o resto
daquela noite foi apenas para
descansarem, porém, no dia seguinte os
dois sentaram-se na mesa para
almoçarem e também conversar. Ainda sem
jeito Chorumingo perguntou a donzela
esposa o que sentiu ela naquele dia em que
os dois se encontram na praça Melo Uchôa,
quando lhe parecia então distante e
aborrecida.
Ela ainda um tanto tímida, confessou
que seu sentimento existia desde a primeira
vista; Chorumingo não satisfeito com as
respostas da esposa, insistiu que queria uma
explicação mais detalhada, pois naquela
cidade há tantos ilustres rapazes e ele foi o
escolhido para uma missão tão importante
(ser padrinho de formatura) e depois
esposo. Nada disse ela, apenas lembrou que
o mundo é assim tudo tem o seu dia!
Com aquele gesto de humildade ela parecia
cada vez mais beía, uma voz suave e dócil,
disse: - Quero que conheça-me primeiro e
depois
faça juízo seguro do que acabei de lhe contar.
Naquele momento a irmã Analice
anunciou, o jantar está na mesa, podem se
servir, aquele convite fez com que os dois
interrompessem a conversa. Chorumingo fez
o seu prato e o da amada esposa, comeu um
pouco de tudo e em seguida da gaveta retirou
um álbum de sua vida de solteiro, onde havia
uma página que lhe pareceu misteriosa. Era
uma declaração de amor sem assinatura.
Leu-a e não pôde deixar de sorrir. Raimunda,
que estava próximo, lançou os olhos para a
página e disse:
-O que é aquilo?
- São fotos e anotações do meu
passado, dis
se Chorumingo, mas por estar com um
sorriso fe
chado ela estremeceu os lábios.
Chorumingo ao ver aquilo começou a
sentir que a presença da esposa era para ele
uma necessidade, e à proporção que se
aproximava dela, bati-lhe mais forte o
coração, no peito jorrava sangue juvenil com
mais força. Seria uma razão fisiológica, mas
havia também uma razão moral; era a lava da
paixão que se ia formando até romper a
garganta do vulcão.
- Iniciava-se ali os primeiro contatos
amoroso
do casal; um estado de alma que acabava
de ser
descoberto pelo invencível amor espiritual. Era
o início da violação de uma liberdade que o
coração não conhecia. Comovida com a
melancólica resignação Raimunda se
entregou ao marido e uma vida feliz foram
viver. O fruto dessa felicidade rendeu aos dois,
quatros robustos filhos, tendo o mais jovem
sido levado para glória do Senhor Deus ainda
pequenino. Dessa forma, afirmamos que a
felicidade da família e de um bom casamento
não depende dos bens materiais, mas do
amor e da responsabilidade que cada um de
nós tem que assumir quando se casa. Mateus
escreveu no seu livro Sagrado a se guinte
mensagem. "E todo o que tiver deixado ca -
sas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou
filhos, ou terras, por amor do meu nome,
receberá cem vezes tanto, e herdará a vida
eterna".
"Se os objetivos ainda não foram
alcançados temos que lutar por eles até
que venham. As coisas concretas
exigem, no entanto, precisa
determinação do ser humano para
poder contar as novidades que
acontecem no seu meio ". Evangelista
Mota Nascimento, professor e escritor
UMA FAÇANHA QUASE QUE IMPOSSÍVEL
Uma façanha quase que impossível, era a
imaginação do Menino Chorumingo, dessa
forma imagina o autor desta obra, pois ele era
nascido e criado no interior, pobre de bens
materiais, não sabia ler e nem escrever até os
dezoitos anos de vida, mas imaginava "um dia
haverei de estudar e me formar em medicina".
Com este personalismo ele encarou o mundo
em que vivia, como a similitude do fogo que
abrasa os montes, trabalhando e rezando
para que Deus lhe desse condição de estudar.
Assim ele pensava porque era dono de um
vasto conhecimento popular, mas não
concodava com
certos colegas que batiam no peito dizendo
"eu não troco meus conhecimentos de caipira
por estes doutores sabidões da cidade.
Caipira é um certo tipo de habitante do
campo ou da roça, particularmente os de
pouca instrução e de convívio e modos
rústicos. Prova disso está na música do Rei
quando ele diz "pensei que sabia e entendia
de tudo, mas vivia no ar, dos conselhos que
as vezes ouvia eu sempre fugia, não queria
entender e no mundo de sonho eu andava e
só acreditava em mim e em você, mais agora
eu sei o que aconteceu, quem sabe menos
as coisas sabe muito mais que eu".
Pensando assim, Chorumingo discordava
dos vaidosos caipiras e com humildade
procurou estudar.
Foi difícil, mas em julho de 1983, prestou
vestibular para medicina na Universidade
Federal do Maranhão, sendo aprovado em
décimo lugar, fez sua matrícula e uma festa
com os amigos. No mês seguinte começou
deixar temporariamente em casa a sua
família e sozinho se muda para a capital São
Luís. Nas proximidades do campo
universitário uma casinha alugou, nela
montou uma sala de estudo e descanso dos
fins de semana.
Longe do aconchego familiar, perdeu
um pouco do seu rendimento, mas, com
determinação conseguiu
passar de ano.
- Na metade da década de 80, ele
recebeu em São Luís a visita do amigo
Marques, que na época era um influente
político de Santa Isabel(PA). Como estava
desempregado e sem dinheiro, teve com ele
uma longa conversa sobre estudo e emprego.
Marques convidou-o a fazer inscrição em um
concurso público para carteiro municipal, que
iria realizar-se na semana seguinte em Santa
Isabel. Aceitou, não antes sem relutar
internamente, mas aceitou, pois vale o desafio
ou sacrifício, que o homem é capaz de
enfrentar e concluiu entregando ao amigo,
uma procuração que autorizava-lhe a fazer
sua matrícula naquele concurso.
Quinze dias depois, Choramingo foi a
Belém fazer as provas, como estava
preparado, passou em primeiro lugar, a
posse deu-se dias depois. Razões estas que
lhe obrigou a transferi o curso de medicina,
para a Universidade Federal do Pará.
Como seu salário era baixo, ele
hospedou-se num pensionato da periferia da
cidade, sem nenhum conforto encarou os
estudos e trabalho como prioridade da sua
vida. Mas o pior estava para vir. No ano
seguinte o concurso foi cancelado e seu
emprego evaporou-se no ar. A solução foi
correr atrás de
outro trabalho, porém só encontrou perfume
e materiais de escritório para vender, um
negócio que dependia de muito tempo e
disposição para visitar o comércio
interessado naqueles produtos, o que era
humanamente impossível, pois tinha
diariamente aulas, pela manhã, tarde e noite.
Choramingo era teimoso e corajoso,
com fé e coragem enfrentou as dificuldades
sem demostrar sinal de cansaço, pedia aos
colegas e amigo carona, alimento e lugar
para dormir, pois não havia mais dinheiro
para pagar o pensionato.
Já debilitado e sem saber o que fazer,
foi mais uma vez surpreendido, adoeceu seu
filho caçula, um garoto de dois anos e meio.
A doença do menino era grave; um
ano depois a família recebeu o desenlace
funesto (desfecho cruel, morte). Os pais
quase enlouqueceram, quando o médico os
preparou para a terrível catástrofe. Mas
compreenderam que o estado de saúde
do menino era gravíssimo.
Numa madrugada de 25 de julho de
1989, na cidade de Brasília, onde estava em
tratamento o garoto deu o seu último suspiro,
morreu como uma flor sem dar um só
gemido, foi um desespero só, não havia
mais dinheiro, os voos para o norte estavam
todos lotados, ônibus também não tinham
mais vagas. Quando de repente, um político
anónimo entra em ação, conseguiu na
companhia aérea três passagem para
Imperatriz...
No aeroporto havia uma multidão de
amigos esperando-os, com os olhos
parados e as feições abatidas pela vigília e
pela dor. Para os amigos diziam, vocês não
sabem o que é perder assim um filho, o caixão
dali seguiu de carro até Açailândia, onde foi
velado e sepultado.
Muitos foram os amigos e parentes que
assinaram o livro de presença daquele ato
fúnebre. Palavras de conforto ao casal
enlutado foram ditas a cada instante. A mãe
do falecido viu do seu lado uma amiga de
infância, essa lhe tomou o pulso, olhou o seu
cansaço, com um sorriso apagado e triste,
mas as consolou com palavras calentadoras
do Senhor Jesus onde ele diz "somos pó e ao
pó retornaremos em paz", recitava aquela
amiga.
Um mês depois, Chorumingo sozinho
mudou-se para uma roça distante, lá trabalhou
dois anos colhendo: arroz, milho, feijão e
mandioca. A razão de tudo isso foi absoluta
falta de dinheiro e concentração de espírito;
uma coisa que na tranquilidade da floresta o
fez recuperar, ganhou trambém esperança,
uma espécie de sonho em ação.
Essa concentração de espírito, deu
ao deprimido pai, ânimo para retornar a
Universidade e concluir seu curso de
medicina, que já estava na fase final.
A supresa, ao chegar no
departamento de matricula, foi pelo chefe
informado de que, seu nome lá não existia
mais como estudante, foi um total cons -
trangimento, mas teve coragem de
procurar o Reitor, para dele pedir uma
oportunidade, este por sua vez acionou o
Conselho Administrativo da Universidade de
quem pediu um relatório sobre o caso.
Quinze dias depois o relatório foi
apresentado ao requerente, porém
indeferido. Não conformado, com o relatório
apresentado pelo Conselho de mes tres,
Chorumingo procurou o Departamento
Jurídico da Instituição de quem solicitou uma
ação judiciária para o caso. Prontamente foi
atendido por um advogado de idade, para ele
Chorumingo passou uma procuração dando
poderes para resolver o caso, na mais
brevidade possivel.
Logo no dia seguinte ele encaminhou a
Justiça Federal, uma ação pedindo a
reintegração de matricula do académico
Chorumingo, mas o Juiz encarregado, alegou
que o prazo legal já tinha esgotado.
Resultado mais uma perda, a ação foi
indeferida.
Como nada mais tinha a recorrer,
Chorumingo voltou para sua casa e começa
estudar para o vestibular de Filosofia que
estava próximo a se realizar na cidade em que
morava.
- Como sempre foi aprovado e
matriculado. No raiar do novo milénio
concretiza um de seus sonhos, era a primeira
façanha da sua vida que estava sendo
venciada, ele se formou em filosofia.
A ultima vez que tivemos com ele, fomos
informado de que, em 2002, também concluia o
curso de odontologia. Se assim é, podemos
afirmar, que, quem fé e determinação tem,
vence qualquer façanha.
"Não sabemos o que Deus escolheu
para cada um de nós, apenas
entendemos que todos somos
capaz de vencer as dificuldades
que enfrentamos
a cada dia de nossa vida ".
Evangelista Mota Nascimento,
professor e escritor
O REENCONTRO
No inicio do novo milénio, Choramingo
não era mais menino sem letras, era sim um
filosófico, um pensador, que mesmo ainda não
tendo realizado seu principal sonho ser
médico, sempre dormia tranquilo, de alma
aliviada. Numa certa segunda feira, acordou às
oito horas. Abriu as janelas de sua casa e viu
que: o dia estava alegre. O sol aparecia no
horizonte com brilho radiante. Na escrivaninha
que ficava de frente para o nascer do sol
assentou-se e durante três horas fez um
inventário de sua vida intelectual.
Às onze levantou-se para almoçar, já
sentado, toca a campainha, era o Dr.
Marques, um velho amigo do tempo de
faculdade, que vinha lhe visitar. O moço
falou-lhe familiarmente e, como não quisesse
almoçar, disse que conversaria com o amigo
enquanto este almoçasse. Sentaram-se à
mesa. As primeiras frases foram acanhadas
e frias, mas livres.
Marques falou-lhe da sua nova
especialidade na cirurgia dentária. Falou
também do disco que pretendia lançar em
breve e com isso entrou no assunto que ali
pretendia levar ao amigo. Então, foi logo revelando.
Com uma especialidade profissional
e um disco para lançar ao público, o que fazia
seu triunfo duplamente glorioso.
Durante cinco minutos descreveu a
música chave do disco, em seguida, afirmando
que os conhecimentos adquirido na profissão,
deu-lhe respaldo para procurar o amigo e
dar-lhe uma sugestão. Depois disse que o
que o levava ali era oferecer-lhe uma ajuda.
Tratava-se de orientar-lhe a não deixar seu
curso de medicina e acrescentou. Procure
uma faculdade particular e converse com o
reitor, que certamente ele irá lhe entender e
validar as matérias que já pagou e acrecentou,
as instituições financeiras estão com dinheiro
para pagar suas despesas até o fim do curso,
debruce-se sobre os livros e os assuntos
passado pelos professores, que tudo vai dar
certo e em pouco tempo você está formado,
pronto para ganhar a vida", disse o Dr.
Marques, e se calou, esperou a resposta ali
mesmo na sala de jantar.
Choramingo pensativo ficou por um bom tempo,
mas com firmeza disse ao amigo:
Tenho estado a me perguntar se, ao
entrar para uma Universidade particular, devo
ajudar a minha consciência descer a uma
camada de suas fileiras pretensões. Foi o
bastante para que, Dr. Marques tentasse a
fazer um longo discurso a respeito do curso
universitário do amigo que parecia lhe estar
cansado . grande constrangimento,
Choramingo retrucou-o sorrindo. Não quis lhe
responder negativamente:
- As sugestões que me traz são de
tamanho valor que ficamos sem palavra
para responder tamanho presente.
Naquele momento o telefone toca,
Choramingo atende e ouviu do outro lado
da linha uma voz falando "amigo estava eu
navegando pela internete, quando de
repente descobi que você está com um
curso universitário quase terminado, quero
ti ajudar disse o interlocutor e desligou o
telefone!
Marques que estava do lado notou
que o amigo tinha mudado de cor, então
indagou:
-Quem estava ao telefone falando com
você?
- Um desconhecido reitor universitário
querendo me ajudar, disse Choramingo.
Marques ficou agradecido e foi descançar em
um quarto de hospede que ficava do lado da
sala de jantar. Chorumingo também entrou
para o seu quarto de dormida. O que lá se
passou ninguém soube. Quando saiu, tinha o
passo vacilante, os olhos vermelhos, a boca
contraída e os cabelos em desordem. Na
escrivaninha se sentou e escreveu uma car ta
que destinou ao Reitor da Universidade que
lhe prometia ajuda e no mesmo dia
enviou a correspondência.
Retornou ao seu aposento de
descanço, tomou um banho, vestiu-se depois e
na porta ficou conversando com o amigo
Marques enquanto por ali pasasse um taxi.
Não tardou que lhe passasse um carro à
porta. Meteu-se nele com o amigo e mandou
tocar para os pontos turísticos da cidade.
Em um confortável ambiente deram uma
parada. Lá desceram do veículo, com a
esposa Chorumingo dividia atenção entre os
gracejos de satisfação que se sentia em está
naquela noite acompanhada pelo marido e um
grande amigo. Via no marido como que um elo
entre quimera realizada (produto da
imaginação). Nisso pensava quando aquele
amigo veio trazer tão grande apoio e
sugestões para uma nova perspectiva de vida
de Chorumingo um cinqiientão que não se
entregava a pouca coisa.
Não sei o que pensarão os outros,
disse ele. Logo que poder vou sozinho partir
para cidade de origem da universidade
prometida, levando na bagagem coragem e
determinação para esse curso terminar o mais
rápido possível, e que essa aprendizagem
dê-me meio de trabalhar legalizado na profis -
são dos meus sonhos em qualquer cidade,
uma liberdade de expressão que tem os
profissionais que pertencem alguns Conselhos
regulamentador das profissões de nível
superior.
Com este gesto Chorumingo,
demostrou para o amigo e família que
concordava a fraze, "tudo tem o seu dia
para aconterer", uma colocação que de -
monstrou claramente, aquele reencontro,
tinham razão de ser; depois saíram daquele
ambiente regozijados de felicidade.
A noite caíra de todo; Dr. Marques
resolveu retornar a Goiânia, sua cidade
de residência, Chorumingo compreendeu
que o amigo tinha a intenção de ajudá-lo e
intimamente lhe agradeceu; narrando-lhe a
visita, a conversa, as sugestões foram de
grande valia para o equilíbrio de sua vida
profissional.
Anos depois, Chorumingo e a
esposa Raimunda estavam formados a nível
superior e felizes,
para continuarem a doce união que o
destino da vida os deu neste mundo tão cheio
de turbulência e disparidade social.
Certamente este magnânimo casal um
dia serenamente vão entrar em outono da vida.
Porém sem esquecerem até hoje o escolhido
dos seus corações, no entanto, esqueceram
as dificuldades sofridas, e à medida que os
anos passam, espiritualizam e santificaram a
memória do passado com o presente. Ninguém
mais os viu desocupados. Para consolo
de sua velhice, eles tiveram quatro filhos, em
que deram a educação familiar e cultural
devida dos dias atuais.
Dispondo de todos os meios que
podiam fazer venturosos, segundo a
sociedade, Chorumingo e Raimunda são hoje
felizes, porque no decorrer de tantas
dificulidades conseguiram fazer vários concursos
públicos e privados, sendo aprovados
em todos.
Reativaram a empresa comercial que
estava adormecida por falta de capital, foram
nomeados e eleitos para os cargos
administrativos das associações e clubes de
serviços que fundaram, funções que
excerceram com honradez e dignidade até o
fim dos mandatos que estavam investidos.
Constantemente ouve-se falar de
alguém que
sonha em vencer na vida, os erros foram
deixados de lado, no fio de seu próprio
pensamento, faz-se um deserto, mas se sua
alma chamar contra o destino! Certamente, a
consciência do oprimido acusa os erros que
por ventura cometeu.
Assim aconteceu com Menino
Choramingo, que pensava um dia em ser
doutor, um sonho que não veio, como tinha
planejado, foi aprovado no vestibular,
estudou, mas por falta de condição teve que
abandonar o curso que mais queria fazer, foi
jubilado no oitavo período de medicina,
conseguiu se formar em filosofia e está lutando
para terminar odontologia numa Faculdade
Particular longe do seu Estado de origem,
simplesmente por falta de Unive

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Mestre não é só aquele que ensina, mas também, aquele que aprende com seus alunos. "Evangelista Mota Nascimento"